De volta à ação depois da pandemia da COVID-19: o que as famílias, os professores de educação física e as comunidades precisam de saber sobre o estado de crescimento, desenvolvimento motor e comportamentos de saúde das crianças.
O crescimento e o desenvolvimento de crianças são influenciados por um vasto leque de variáveis contextuais de que destacamos a família, a vizinhança, o ambiente construído e a escola. A variabilidade no crescimento e no desenvolvimento espelha, frequentemente, desigualdades favorecimento e adversidade. A obesidade e o sedentarismo são faces visíveis dos reflexos negativos do desenvolvimento pouco sustentável das crianças, a que se acrescenta o impacto desconhecido do “confinamento” associado à presença do COVID-19.
Os apelos são constantes para que crianças e jovens se envolvam, sistematicamente e de forma organizada, em atividades físicas e desportivas, com forte pendor lúdico, pleno de sentido pessoal e efeito gregário saudável. No entanto, a eficácia dos mais variados programas não tem correspondido às expectativas uma vez que os níveis de atividade física e taxas de adesão à prática desportiva organizada nos mais novos estão aquém do esperado e recomendado. A Educação e Expressão Físico-Motora, as Atividades de Enriquecimento Curricular e a iniciação desportiva no primeiro ciclo do ensino básico são os maiores pilares para permitir que as crianças adquiram comportamentos e participem em práticas gratificantes cujo alcance é, também, o da redução das taxas de obesidade e sedentarismo.
A informação mais recente salienta, de modo inequívoco, que a infância é um dos períodos mais sensíveis para o desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais, capacidades físicas e consciência corporal a par de mecanismos de autorregulação subjacentes ao desenvolvimento cognitivo e socio-afetivo. Estamos, portanto, no vasto domínio da competência motora e da literacia física intimamente ligadas aos resultados da iniciação nas práticas desportivas deliberadas com impactos relevantes no sucesso escolar e no crescimento e desenvolvimento sustentáveis das crianças.
Daqui a necessidade de um olhar mais abrangente e multifacetado sobre o crescimento e o desenvolvimento sustentados de crianças ancorados nos saberes, metodologias e procedimentos da Auxologia, do Desenvolvimento Motor e Cognitivo, da Epidemiologia do Curso da Vida e da Educação. O grande foco é um entendimento mais vasto do nexo relacional do crescimento e desenvolvimento motor e estilos de vida nomeadamente os seus comportamentos alimentares, níveis de atividade física, tempo sedentário e de sono. Tudo em diferentes planos de uma hierarquia informacional que liga a criança à sua família, à sua escola e ao lugar onde vive. Em suma, do seu desenvolvimento, educação e saúde no contexto da sua família e comunidade.
FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal;
USP – Universidade de São Paulo, Brasil;
UC – Universidade de Chicago, Estados Unidos;
UL – Pennington Biomedical Research Center, Universidade do Estado de Luisiana, Estados Unidos;
SU – Syracuse University, Estados Unidos;
CMM – Câmara Municipal de Matosinhos
José Maia, o investigador principal, é um pesquisador reconhecido em Portugal e no estrangeiro com uma carreira académica dedicada ao estudo não só do crescimento físico e desenvolvimento motor de crianças e jovens, mas também do atleta infanto-juvenil, e das variáveis correlatas do desenvolvimento de vidas saudáveis [3]. Peter Katzmarzyk (co- investigador principal) é um investigador internacionalmente reconhecido no nomínio da atividade física em idades pediátricas [15]. Go Tani é um dos maiores especialistas lusófonos na aprendizagem e desenvolvimento motor com uma ênfase especial no “universo” da Educação Física. Donald Hedeker é um estatístico renomado, programador e especialista no desenvolvimento de novos métodos de análise Estatística nas Ciências da Saúde [5]. A equipa de investigação tem contribuído para um esclarecimento mais preciso da complexidade relacional entre o rescimento físico, o desenvolvimento motor, a aptidão física e os comportamentos de saúde (por exemplo, atividade física, hábitos alimentares, sono e comportamentos sedentários) de crianças e jovens no contexto das suas famílias, escolas e ambiente sociogeográfico de residência [3].
Os grandes propósitos deste projeto, simultaneamente investigacional e educacional, são os seguintes:
(1) Avaliar o estado de crescimento e desenvolvimento motor das crianças do 1º ciclo do
ensino básico após a pandemia da COVID-19;
(2) Acompanhar as trajetórias do seu desenvolvimento
durante 18 meses com recurso a uma nova tecnologia educativa no contexto das suas aulas de EF.
De modo mais específico, pretendemos:
(1) descrever extensivamente o estado de crescimento físico e desenvolvimento motor após a pandemia;
(2) identificar grupos de risco em função da idade e género em termos de sobrepeso e obesidade;
(3) mapear os níveis de aptidão física e literacia motora;
(4) identificar as taxas de cumprimentos com as recomendações da Organização Mundial de saúde em
termos de atividade física moderada a vigorosa e sedentarismo;
(5) analisar os modos como as famílias, aspetos do ambiente físico e construído e contextos escolares se associam com as expectativas de crescimento e desenvolvimento saudável e sustentado das crianças;
(6) examinar a extensão das mudanças e estabilidade no crescimento e desenvolvi mento motor de crianças durante um período de 18 meses.
Para cumprir os propósitos anteriores foi concebida uma abordagem em duas etapas – para cumprir os propósitos 1 a 5 recorremos a um delineamento transversal. No propósito 6 consideramos um delineamento longitudinal com duração de 18 meses e avaliações semestrais.
Amostraremos 1000 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos de 25 escolas do concelho de Matosinhos. Para participar no estudo, é esperado o consentimento informado e esclarecido os pais/encarregados de educação das crianças. Ademais, haverá reuniões preliminares com os responsáveis camarários pela Educação e os Diretores das escolas para divulgar o projeto, as suas implicações e alcances. Do mesmo modo haverá lugar à sensibilização dos pais/encarregados de educação das crianças para perceberem o alcance do projeto e o seu significado para o crescimento e desenvolvimento dos seus filhos.
A amostra será composta por ~1300 crianças matosinhenses (entre os 6 e os 10 anos de idade) do 1º ciclo do ensino básico, provenientes das 4 uniões de freguesias – 9 agrupamentos de escolas.
